terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Esta poesia do calor amarela e seca





Esta poesia do calor amarela e seca
esta campina agreste a demarcar-me
os caminhos ásperos e mediterrânicos
de meu país de silvas e piteiras,
com o sol a pique sobre a poeira
das planuras desabrigadas

Paira na charneca taciturna
o silêncio de um grito por dar
e o húmus gretado pela impiedade solar
abre as entranhas à brisa
que em suas crinas arrasta
um verde som de frescura

Os lábios da terras ressequidos
vão pedindo ao vento gotas de mar
neste comum queimar de terra
nada que salpique a poeira de pureza
um céu cujo azul o calor não deixa ver
e uma luz baça e sufocante
que nos enlouquece e nos faz delirar

Sinto a irreal carícia das searas ondulando
e um intenso cheiro a campo
deserta meu sentimento
Por entre o rumor das cigarras
o compasso desta hora em constante despedida